Em uma pequena vila cercada por montanhas e florestas, vivia uma menina chamada Clara. Ela era curiosa e sempre tinha a cabeça cheia de ideias malucas e histórias que inventava enquanto caminhava pelas trilhas da floresta. Clara adorava observar o céu noturno de sua janela, onde as estrelas brilhavam como pequenas velas acesas na escuridão. Mas ultimamente, ela havia notado algo estranho: algumas estrelas pareciam mais apagadas, como se estivessem cansadas.
Uma noite, enquanto seguia o rastro de uma estrela cadente que caiu perto da vila, Clara encontrou um caminho escondido entre as árvores. Seguindo seu brilho tênue, chegou a um jardim secreto que nunca havia visto antes. Era um lugar mágico, cheio de flores luminosas que pareciam feitas de luz. Ao se aproximar, percebeu que não eram flores comuns, mas sim estrelas caídas que haviam criado raízes na terra.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou uma voz suave.
Clara girou rapidamente e viu uma raposa prateada com olhos brilhantes como o amanhecer. Ela não estava assustada; algo em seu olhar lhe inspirava confiança.
— Só queria ver o que era essa luz — respondeu Clara. — Este lugar é real?
— É tão real quanto seus sonhos — disse a raposa, movendo sua cauda brilhante. — Eu sou Lúmina, a guardiã deste jardim. As estrelas que você vê aqui perderam o caminho no céu porque os humanos deixaram de sonhar tanto quanto antes.
Clara franziu a testa, sem entender bem o que isso significava.
— As estrelas precisam dos nossos sonhos para brilhar?
— Exatamente — respondeu Lúmina. — Quando os humanos sonham, enviam faíscas de esperança para o céu, e as estrelas se alimentam delas. Mas agora, muitos se esqueceram de imaginar, criar e acreditar em coisas impossíveis. Por isso, essas estrelas caíram. E se ninguém fizer algo logo, todas perderão sua luz para sempre.
Clara sentiu um nó na garganta. Doía pensar que algo tão belo como as estrelas pudesse desaparecer completamente.
— O que eu posso fazer? — perguntou, decidida a ajudar.
Lúmina sorriu.
— Você tem algo especial, Clara. Vejo centelhas de criatividade nos seus olhos. Se conseguir lembrar ao mundo a importância dos sonhos, talvez possamos salvar as estrelas.
Juntos, Clara e Lúmina bolaram um plano. Primeiro, recolheram pétalas das estrelas caídas, que ainda conservavam um pouco de seu brilho. Clara aprendeu que essas pétalas podiam ser usadas para criar poeira mágica capaz de despertar a imaginação das pessoas.
De volta à vila, Clara começou sua missão. Começou contando histórias incríveis aos seus amigos na escola. Falava de mundos onde os peixes voavam, de castelos feitos de nuvens e de animais que falavam. No início, algumas crianças riram, mas logo perceberam que essas histórias os faziam sentir felizes e livres. Começaram a inventar suas próprias aventuras e a compartilhar seus sonhos mais loucos.
Lúmina também ajudava. Durante a noite, a raposa prateada espalhava a poeira mágica sobre os telhados da vila. Quando as pessoas dormiam, sonhavam com cores vibrantes, paisagens fantásticas e possibilidades infinitas. Ao acordar, muitos sentiam uma nova energia, como se tivessem recuperado algo que haviam perdido há muito tempo.
Mas Clara sabia que não bastava apenas contar histórias. Precisavam de algo maior, algo que tocasse o coração de todos na vila. Então, decidiu organizar uma grande festa sob as estrelas. Com a ajuda de seus amigos, decoraram o parque com lanternas e desenharam constelações no chão com tinta luminosa. Convidaram a todos: crianças, adultos e idosos.
Naquela noite, quando todos estavam reunidos, Clara subiu em um pequeno palco improvisado e falou:
— Hoje quero lembrá-los de algo importante — disse, segurando um frasco com poeira estelar. — Todos carregamos estrelas dentro de nós. Nossos sonhos são como luzes que iluminam o mundo. Se deixarmos de sonhar, tudo fica escuro. Mas se acreditarmos em nossas ideias, por mais malucas que pareçam, podemos tornar o mundo um lugar mais brilhante.
Então, lançou a poeira no ar, e esta se transformou em milhares de faíscas que flutuaram sobre o público. Todos sentiram uma sensação de calor no peito, como se algo dentro deles tivesse sido reacendido. Naquela noite, sob o céu estrelado, todos compartilharam seus sonhos em voz alta: uns queriam viajar, outros escrever livros, outros simplesmente ser mais gentis.
No dia seguinte, algo maravilhoso aconteceu. No jardim secreto, as estrelas caídas começaram a recuperar seu brilho. Suas pétalas voltaram a iluminar, e algumas até começaram a subir em direção ao céu, prontas para retornar ao seu lar celestial.
Lúmina olhou para Clara com orgulho.
— Você conseguiu — disse. — Trouxe a magia de volta a este vilarejo.
Clara sorriu, mas sabia que seu trabalho não terminava ali.
— Ainda há muitos lugares onde as pessoas esqueceram como sonhar. Talvez um dia eu possa levar essa magia a outras vilas.
A raposa assentiu.
— Quando chegar esse momento, estarei aqui para ajudar. Mas por enquanto, aproveite o que conquistou.
Desde então, a vila mudou. As pessoas voltaram a olhar para o céu com assombro, a imaginar e a acreditar no impossível. E embora Clara não visitasse o jardim com tanta frequência, sabia que sempre faria parte dele, porque as estrelas que uma vez estiveram apagadas agora brilhavam graças a ela.
E assim, toda vez que via uma estrela cadente, Clara lembrava que os sonhos, por menores que sejam, têm o poder de iluminar o mundo inteiro.
Fim. ⭐